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As manias da Campus Party

Compartilhamento de arquivos, máscaras e um grito que ecoa por toda a Campus Party já se tornaram parte do eventoSÃO PAULO – A Campus Party está na sua quinta edição e todo esse tempo já foi suficiente para se criar uma cultura própria entre os campuseiros, os habitantes desse espaço durante uma semana por ano. Muita coisa evoluiu, muitas apenas ficaram diferentes, mas outras permaneceram, como Máscaras, gritos e formas de compartilhamento “transgressores”.
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De Assange para Anonymous.

As manias da Campus Party
As manias da Campus Party

Na edição passada, graças a um convite do Fórum Internacional de Software Livre em Porto Alegre (FISL) para a sua 12ª edição feito em uma máscara de Julian Assange, criador do Wikileaks, havia a cara do sujeito em todo lugar. Em sua homenagem, ou só por pura diversão, centenas de campuseiros colocaram as máscaras atrás da cabeça dando a impressão de que Assange estava, metaforicamente, sempre de olho em todos. Foi sinistro.

Dessa vez, refletindo os acontecimentos de 2011 e o fortalecimento de um grupo hacker anônimo temido mundialmente, o rosto de Assange deu lugar ao rosto sem dono inspirado em Guy Fawkes, usado pelo protagonista do longa “V de Vingança” e símbolo do Anonymous.

“O Anonymous teve repercussão. Mas não necessariamente quem usa a máscara aqui ou no resto do Brasil apoia o grupo”, diz Rodrigo Rodrigues da Silva, 25 anos, membro da Garoa Hacker Clube. Para ele, a máscara se tornou um símbolo de todos os que querem reclamar. “A gente quer fazer política e a internet serve para isso. Não tem essa separação. Política nas ruas e políticas pelo Facebook. A internet é o mundo real”, opina.

A máscara de Guy Fawkes e a página da Prefeitura da capital de Santa Catarina após o defacement. FOTO: Reprodução

O analista de sistemas, Sinésio Bittencourt, e a professora, Maria Elisa Iwaya, de Florianópolis, acredita que a máscara simboliza o modo como a nova geração quer fazer política. “Não é a mesma coisa de dez anos atrás. A máscara mostra que ninguém tem rosto, não há hierarquia, não há líderes. Como na internet. Não é a internet que tem que ir para a rua, mas sim o contrário. Uma não elimina a outra”, opina Iwaya.

Bittencourt discorda da identificação com o grupo Anonymous, pois entende que as ações do grupo hacker, da maneira como são feitas, estão erradas e não funcionam. “Não concordo com esses ataques gratuitos. É invasão. Há outras maneiras de reivindicar. O que fazem parece que é só para chamar a atenção”, diz.

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Ambos vieram com um caravana de Florianópolis apoiada pela prefeitura da cidade, cuja página na internet sofreu um defacement por parte do grupo @AnonBRNews no dia 31 de janeiro. Por meio de suas secretarias, a instituição financiou a impressão de centenas de máscaras de Guy Fawkes, além de camisetas com a frase “Stop Sopa e Pipa” (imitando o tipo gráfico da série Star Wars).

De “ÔÔP” para “UÔÔ”. Todo campuseiro conhece o insistente grito “ÔÔÔÔ”, que surge do nada, espalha-se por toda a Arena e some sem dar explicação. O Link, no entanto, desvendeu o mistério em torno da origem desse tal grito na última edição. Para quem não viu, essa é a hora.

No dia 20 de janeiro de 2011, o Link publicou: “Não precisa de motivo, a qualquer momento, em meio a uma palestra, participando de alguma promoção, jogando, comendo, tomando banho, dormindo (!), sempre haverá um grupo (uma multidão, na maioria das vezes) gritando ‘ÔÔÔÔ’. Até agora, muitas pessoas não sabiam o como isso começou, mas o campuseiro Pedro Henrique, faz parte dessa história, e explicou ao Link tudo o que sabe sobre o hit mais famoso da Campus Party.

O grito nasceu logo na primeira edição, em 2008. O autor do primeiro ÔÔÔ se chama Henrique Alves. Ele e Pedro Henrique são amigos e participam desde sempre da área de modding. Em 2008, Modding e Games ficavam muito próximas uma da outra, e havia uma espécie de rixa entre os grupos das duas áreas, com direito a brigas verbais. Sem motivo algum, muito provavelmente em função de uma comemoração de uma nova criação arquitetônica em seu desktop, Henrique Alves gritou ÔÔÔ, o que foi bem recebido por seus amigos que passaram a repetir o coro.

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O canto evoluiu e se tornou o grito de guerra usado contra os ‘gamers’. A partir daí, a brincadeira cresceu e ganhou novos adeptos, na verdade, todos os campuseiros se tornaram adeptos. Ah, um detalhe preciocíssimo ao qual apenas o Link teve acesso: o grito, na verdade, não é ‘ÔÔÔ’, mas sim ‘ÔÔÔP’, com um ‘p’ mudo no final, o que faz toda a diferença.”

O software de código aberto foi lançado em 1999. FOTO: Reprodução

Até o grito, que não foi esquecido após todos esses anos, sofreu uma leve modificação. Em vez de “ÔÔÔP”, o grito agora é pronunciado com um “U” no início, tornando “UÔÔÔ”. O que muda tudo. Não?

P2P nerd. Há três anos, quem chega na Campus Party já sabe: abra o DC++, descubra o servidor interno, baixe e compartilhe arquivos até lotarem todos os HDs externos.

“DC++” é um software de P2P criado em 1999 sob código aberto por Jacek Sieka. O programa tem a aparência do clássico IRC, com uma tela no canto superior direito mostrando uma lista de todos os usuários online, a principal abrigando o chat e uma separada embaixo que exibe o progresso de todos os downloads e uploads.

Nas mesas, HDs externos – superiores a 500 GB – disputam espaço com notebooks, CPUs, garrafas d’água e televisores. O chat não para e se torna uma sala de bate-papo dos campuseiros. Nas pastas de compartilhamento, por mais diferentes que sejam, alguns pontos comuns são facilmente encontrados: filmes (indo de animações a filmes de super-herói, passando por comédias e horror japonês), animes, séries (sendo Two and a Half Men, Big Bang Theory e The Walking Dead quase onipresentes), além de jogos, muitos jogos.

“P2P é transgressor e sempre vai ser. Tem gente que acha bacana compartilhar arquivo. Eu também compartilho, porque acho o preço das coisas abusivo, mas sou contra quem baixa coisas e se acha ‘o vingador da internet’”, opina o paulista Maurício Oliveira, de 21 anos, que começou a usar o DC++ a partir de 2010.

O jovem deixou disponível no sistema filmes em Blu-Ray que comprou e das quais fez cópias digitais para distribuir na internet.

“Sempre coloco um bloco de notas dizendo ‘se você gostou do que baixou, compre o produto para apoiar os criadores’. O que costumo baixar são músicas eletrônicas que normalmente são divulgadas de propósito pela internet. Jogo eu não baixo porque é algo que consumo muito e toda hora. Eu espero pra ver se alguém já comprou, vejo se gosto e aí eu compro o meu”, diz.

Para ele a indústria sustentada por direitos autorais deveria entender que a prática de compartilhamento e o negócio deles se complementam. Para ele “baixar não exclui a compra”, e se diz contra o peso da punição a quem troca arquivos na rede. “O dono do Megaupload pega mais de 50 anos de prisão e um estuprador, 20. Acho desproporcional a punição a quem compartilha.”

Fonte:
Por Murilo Roncolato - O Estado de S. Paulo
http://link.estadao.com.br/noticias/geral,as-manias-da-campus-party,10000036498

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